Carolina Crepaldi
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(Alberto Caeiro por Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos, VI)
A minha viagem começou com a escolha da agência. Queria o simples (e quero), e me parece que a contemporaneidade transformou o simples em algo bem complicado. Vamos lá amigo “google”…
Até que enfim encontrei a agência. Viagens possíveis para a minha complicada simplicidade. Valores…, rodoviário, nacional, patinhas (quero várias), dormir em abrigo… é isso! Travessia Itatiaia – Maromba.
E lá fui eu, e mais outro, e outro, e outro… e fomos NÓS! Carol (eu que vos escrevo), Mateus, André, Bley, Danilo, Bruno, Daniel, Maarten, Klever, Maurício, Helena, Johana, Cárin, Ale, Gabi e Sólon.
Chegamos em Passa Quatro, dormimos no Hostel e no dia seguinte nos somamos a “mineirada”, Meiry, Artur, Patty e Rodolfo. E daí sabe o que fizemos? A gente andou e depois andou e andou e andou.
Ah! Lembrei a gente andou também! Parece bobagem, mas foi a nossa meditação a lá Ocidente (com muito movimento). Cada um com seu “passo”, desde o mais contemplativo até o mais “hardcore”, como diria Daniel (nosso guia de São Paulo).
Que o trekking leva à introspecção, a descoberta e/ou superação dos limites, que a paisagem ao nosso redor seria fantástica, são informações que de alguma maneira já tínhamos; mas esta viagem teve algo em especial; f l u ê n c i a. Acredito que por características dos próprios caminhantes, mas em grande parte, este “movimento fácil” se deve ao trabalho dos guias, percebendo o grupo e permitindo que a viagem fosse significativa para todos.
Quando soube do grupo, pensei que eram muitos e que estava me metendo num conglomerado de vaidades e carências, com muito conflito, chiliques … E não foi nada disso, mesmo com os diferentes ritmos, olhares, experiências, o grupo caminhou muito bem junto, conhecendo o outro em toda sua alteridade.
No 3o dia de peregrinação, com o Roberto (nosso mateiro) e seu facão, adentramos a mata mais fechada, trilhamos até o Pico da Serra Negra. Êxtase…
Lindo! E como diria Bowie “…we can be heroes…”
Parabéns a todos nós. E obrigada pela oportunidade de compartilhar esta Travessia.
Agradeço a “comissão de frente” por nossos “piques” na montanha, como uma grande molecagem. Estávamos no “tempo da pureza”. Até as histórias depois das paradas nos remetiam a alguma “traquinagem”. Era o grande barato.
Como diria minha mãe: “Você não vai crescer nunca!” Espero que não…
Agradeço ao Rodolfo, nosso guia local, por me “estender as rédeas”. A tolerância e resiliência do Daniel, a prontidão e solicitude da Gabi, a paciência e delicadeza da Helena e a simpatia e simplicidade da Patty.
Beijos.
Inté!
Carol.