Glauco Rhuan Manske
Um trekking dos sonhos
Na semana que iria comprar as passagens para a Amazônia, recebi a notícia de ter sido o ganhador da promoção Trekking dos Deuses, da Revista Go Outside e da agência de turismo Pisa Trekking. Dei pulos de alegria e já comecei a me preparar psicologicamente para subir o Monte Roraima.
Em Boa Vista conheci as pessoas que seriam meus companheiros nos próximos sete dias. Todos tipicamente amantes da natureza, vestindo roupas outdoor. As expectativas em relação ao trekking só aumentaram.
Começamos o trekking em Paraitepuy, vilarejo indígena já no lado venezuelano do Monte Roraima. Decidi que faria o trekking levando todos meus equipamentos em minha mochila. Não fazendo o uso de porteadores, que nesse trekking são índios locais.
O sol forte castigou os menos acostumados com o calor nesses primeiros dois dias de caminhada. Sendo no primeiro dia, uma caminhada mais plana e no segundo ganhando quase 900m de altitude. Os dois tepuis - nome dado a montanhas de paredes verticais e cume plano - Roraima e Kukenan estão sempre como plano de fundo, muito convidativos. No terceiro dia chegamos ao topo do Monte Roraima, depois de uma cansativa escalaminhada! Diferente de outras montanhas, chegar ao ponto mais alto não é a metade do caminho, mas apenas um terço! Isso porque a melhor parte começa quando chegamos ao topo. Descobrimos um ecossistema estagnado a milhares de anos. Insetos, plantas e pequenos animais que congelaram sua evolução.
Passamos três dias conhecendo a parte superior da montanha. Que mostra ser enigmática, mística e sedutora. Caminhamos por horas e a cada curva nos surpreendíamos com o que víamos. São vales de cristais, fosso de água transparente e gelada, interessantes formações rochosas, flores e plantas que formam um verdadeiro jardim suspenso nas bordas do tepui.
O Roraima abriu os braços para nós e nos proporcionou incríveis dias de sol, sem chuva alguma! Exploramos o máximo que pudemos até o momento de dizer tchau a montanha. Pássaros cantavam enquanto eu descia o passo de lágrimas, um desfiladeiro rochoso em que gotas de uma cachoeira caem nos montanhistas que por ali estão passando. É considerada a benção da montanha.
Cheguei nesse dia cansado ao acampamento do rio Tek. Foram quase 1600m de descida em um dia. Mas enquanto armava a barraca eu não podia deixar de olhar o Roraima ali brilhando a minha frente. O por do sol o deixou num tom laranja que por segundos fez o acampamento todo parar e admirar.
No dia seguinte retornamos para a comunidade de Paraitepuy, onde tínhamos iniciado o trekking. Durante toda a caminhada era difícil não olhar para trás, já sentindo saudades do Monte Roraima.
Esse foi um trekking de sete dias, em que tive um contato muito intenso com as pessoas e com a montanha. Me senti privilegiado por estar numa das regiões mais antigas do mundo, e tão rica em vida! A beleza no Roraima nos contagia constantemente. Durante o dia com as lindas paisagens e curiosidades que encontramos, à noite com um céu estreladíssimo que nos faz refletir.
Sou grato ao pessoal da Go Outside e da Pisa Trekking por terem proporcionado uma experiência tão intensa e inesquecível como essa. O Monte Roraima foi com certeza um dos lugares mais incríveis que já conheci.
Glauco Rhuan Manske